Proposta didática no restauro de uma imagem de Arte Sacra
O presente trabalho se propõe a
documentar o desenvolvimento metodológico do processo de restauro realizado em
uma imagem de Nossa Senhora da Conceição pertencente ao acervo do Centro
Técnico Templo da Arte, situado na Rua Costa Aguiar, 1013 - Ipiranga – São
Paulo. Abrange uma pequena pesquisa sobre a iconografia da Imaculada Conceição,
as cartas de conservação, as técnicas do restauro museológico e uma proposta do
que se convencionou chamar um “restauro didático na recomposição de sua
iconografia pela execução de uma prótese dos atributos faltantes ou perdidos.
Agradecimentos
A todos os professores do CTTA, em especial: minha orientadora, Prof.ª Titina Corso que me incentivou nesta nova abordagem, à professora Rosinha Campos pela inspiração constante e a professora Lúcia de Souza Dantas que ampliou o meu repertório e a sede de pesquisa. A todos os nossos mestres que proporcionaram o conhecimento e aprendizado necessário para a formação acadêmica e profissional do conservador-restaurador e também nosso engrandecimento pessoal, ao expandir o nosso olhar para a arte e o mundo do sagrado. Ao Centro Técnico Templo da Arte que cedeu a imagem em estudo. A todos os colegas de classe pelas trocas de experiências e a convivência saudável durante todo o curso, companheiros em descobertas e parceiros na busca de soluções. À minha família cujo apoio possibilitou esta jornada, e ao meu José por me incentivar na superação dos meus limites.
A todos vocês a minha gratidão!
Parte 1 - Pesquisa Iconográfica
Pesquisa iconográfica sobre Nossa Senhora da Conceição para o projeto de conservação e restauro de uma imagem em madeira policromada no Centro Técnico Templo da Arte. Meu agradecimento a minha querida professora Rosinha Campos, impossível não lembrar de você a todo instante na leitura da iconografia rica da Imaculada, e à Profa. Titina Corso pela inspiração e suporte a este trabalho! O restaurador precisa estar atento ao processo meticuloso e científico, mas é muito melhor quando se é apaixonada pelo o que se faz. A fonte dos textos e fotos estão relacionados no slide bibliográfico. A música do video original (com créditos ao final da apresentação) foi modificada em função das restrições do youtube.
Parte 2 - O Processo de Conservação e Restauro
Este projeto de pesquisa em
conservação e restauro da imaginária sacra em madeira policromada é resultado
dos fundamentos teóricos e práticos adquiridos nas aulas da disciplina de
Restauração de Madeira, dentro do Curso Pós-Técnico em Conservação e
Restauração de Arte Sacra do Centro Técnico Templo da Arte/SP. Escolheu-se
dentre as imagens disponibilizadas pela instituição uma escultura em madeira
policromada de Nossa Senhora da Conceição. A responsável pela supervisão do
projeto é a Conservadora e Restauradora Profa. Esp. CR Marcia Cristina A. Corso (Titina Corso).
Sobre a obra objeto de estudo desta
disciplina, encontrava-se em estado muito precário com grandes perdas da
policromia, porém mantendo vestígios de suas cores originais. A intenção é
conservar o existente na realização de uma proposta de intervenção museológica e
didática de forma a se recuperar uma leitura iconográfica da imagem,
respeitando os princípios de reversibilidade. Realizou-se uma avaliação
minuciosa de como será justificada cada etapa desse procedimento, bem como uma
discussão com o grupo supervisionado em sala de aula dos processos mais
indicados a cada caso. A documentação do processo foi realizada com o relatório
detalhado da descrição dos métodos, técnicas, materiais, documentação
fotográfica e análises, visando um resultado satisfatório dentro do objetivo
proposto para o trabalho: resgatar a representação iconográfica da imagem sem
prejuízo do registro do tempo nela inserido, ou de sua leitura, e recuperar o
seu valor estético com a reposição de partes perdidas características de sua
representação numa proposta didática.
Parte 3 - Considerações Finais
A peça escolhida para a realização desse projeto
possibilitou uma nova abordagem dentro dos conceitos de conservação e restauro.
Surgiu o questionamento de como uma imagem que tem uma iconografia tão
facilmente identificável como a de Nossa Senhora da Conceição, pela perda de
partes escultóricas poderia levar a uma leitura equivocada ou errônea do que
representa.
Nos museus as peças estão expostas muitas vezes
fragmentadas e fora do ambiente ao qual eram destinadas, esse recorte as
destituem de uma séria de símbolos e conceitos dentro da leitura iconográfica
inerente à sua representação. No caso específico da Arte Sacra, ainda interfere-se
no aspecto de um objeto que é motivo de adoração, representa algo além de sua própria
materialidade, dialogando com o imaginário, fé e devoção do público, é por
assim dizer uma “imagem viva” cuja fragmentação e perda causa incômodo.
O restaurador sabe que para interferir em um bem
cultural é preciso estabelecer limites, respeitar as marcas do tempo que também
conferem ao artefato a sua identidade, mas surge a questão: e quando esses
desgastem afetam a sua leitura e porque não dizer a sua sacralidade? As marcas
e imperfeições em uma obra de arte são fatores a serem preservados, pois
conferem-lhe a sua identidade, no entanto, reconstituir um bem cultural repondo
os materiais originais é cometer um falso histórico.
Com todas essas questões levantadas e dentro do
âmbito de uma escola de conservação e restauro, surgiu a proposta de se
promover uma restauração dentro de uma linha didática, que possa oferecer
material para estudo de outros pesquisadores, conservadores e restauradores.
A intervenção nessa peça demonstrou com que é
preciso estabelecer o limite entre o que consideramos esteticamente aceitável e
o seu estado original, a decisão de retomar a sua leitura iconográfica
estabeleceu uma dialética entre a lacuna e a reintegração, no caso em especial
da recomposição da carnação, o propósito foi recuperar a volumetria do
artefato, executando uma prótese acrílica dos querubins que adornam a base da
imagem, mas não com a intenção de nivelar as suas imperfeições ou corrigir, por
assim dizer, enganos estéticos como a proporção das linhas do nariz e olhos, o
procedimento foi apenas aplicar uma camada de têmpera guache (reversível)
preservando as suas imperfeições, inclusive de desníveis da face, pois são também
elas que conferem identidade ao objeto.
O papel de conservação é tão importante quanto ao da
restauração do objeto, esse é o papel do conservador-restaurador: preservar o
registro histórico presente nas marcas de deterioração de um artefato é o que vai
definir a medida da intervenção e até onde o restaurador deve ir. Françoise
Choay (2006) comenta que todo objeto pode ser convertido em testemunho
histórico quer ele carregue ou não essa característica memorial em sua origem, mobilizando
o espectador a reviver um passado mergulhado no tempo pela mediação da
afetividade (no presente), contribuindo para manter e preservar, neste caso,
uma identidade religiosa que pertence à nossa sociedade atual.
A preocupação foi sempre reconstituir todas essas
perdas sem que a imagem fosse destituída de sua identidade original, mas diante
do estado inicial do objeto, mesmo realizando todas as intervenções dentro dos
critérios de restauração, não seria mesmo possível reconstituir o objeto
totalmente como era antes, mesmo porque esse não é o papel do restaurador.
Citando Viollet-le-Duc (2006) quando diz que
restaurar não é manter, reparar ou refazer, mas restabelecer em um estado
completo que pode não ter existido nunca em um dado momento; entende-se que
restaurar não é consertar, mesmo porque não é possível reconstituir o artefato
ao seu estado anterior, porque ele não é só matéria, o artefato está revestido
não só das marcas conferidas a ele pelo tempo, ele carrega consigo um outro
componente, que é imaterial.
Na arte sacra além da técnica o profissional
conservador-restaurador deve se ater a não ultrapassar esse limite da
sacralidade que uma peça de culto, que embora fora de seu espaço litúrgico, tem
esse conteúdo inerente ao objeto. O papel do conservador-restaurador é também não
obliterar as marcas características de testemunho do tempo que o objeto
adquiriu ou o artefato perderá além de sua materialidade, também a sua “alma”.
Parte 4 - Projeto Concluído
Imagem antes do processo
Processo concluído
Parte 5 - Referências Bibliográficas
AUGRAS,
Monique. Todos os Santos são bem-vindos. RJ, Pallas, 2005.
BATTIOLI,
Luciana Pellizzi. Em defesa das obras de arte. RJ, AGIR, 1996.
BOITO,
Camilo. Os Restauradores. SP, Ateliê Editorial, 2008.
BONNET,
Márcia. Representações da Imaculada Concepção na Imaginária Missioneira da
Banda Oriental: questões iconográficas. IA-UFRGS, Revista Pindorama, 2006.
BRANDI,
Cesare. Teoria da Restauração. SP, Ateliê Editorial, 2004.
CALVO,
Ana. Técnicas e Conservação de Pintura. Civilização Editora, Portugal, 2006.
CHOAY,
Françoise. A Alegoria do Patrimônio. UNESP, São Paulo, 2006.
MARINO,
João. Iconografia de Nossa Senhora e dos Santos. SP, Banco Safra, 1996.
MEGALE,
Nilza Botelho. Invocações da Virgem Maria no Brasil. RJ, Vozes, 2001.
MEGALE,
Nilza Botelho. O livro de Ouro dos Santos. RJ, Ediouro, 2003.
SCHÜTZ,
Daniele. Manual Básico de Conservação e Restauro. ULBRA, Canoas/RS, 2012.
VIOLLET-LE-DUC,
Eugène Emmanuel. Restauração. SP, Ateliê Editorial, 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada por sua participação! Estamos atentos a todos que por aqui passam e deixam suas impressões! Sejam bem vindos!